Caro Trovador:
Li atentamente esta sua dissertação filosófica. Fiquei fascinada com os pormenores requintados com que a presenteou e, sem disso ter consciência, dei por mim a divagar… Voou a minha imaginação para locais, mais ou menos, perdidos nos recônditos desta nossa aldeia global, voou o meu sorriso para paisagens de imenso horizonte, voou…
Saí de mim mesma e observei-me então a conduzir o meu convertível vermelho (está bem, está), cabelos ao vento (depois de ter gasto uma fortuna no cabeleireiro), a maquilhagem na dose certa, aquele vestido preto que me cai na perfeição, aquela sandália de salto alto preta, a lingerie escolhida a dedo para causar o tal impacto a quem tem paciência para a descobrir – antes ou depois – e, claro, aquele toque de perfume que, eu sei, tem tudo a ver comigo. Observei-me assim e agora o que quer que eu lhe diga???
As paisagens correm velozes, o som da Janis acompanha-me e leva-me a outros espaços e a outros momentos, o desgraçado do semáforo ficou vermelho (porra, quem é que se lembra de pôr uma merda de um semáforo no meio do nada, porra), chega o cruzamento (e agora sei lá eu para onde é que se vira…, bem deve ser por aqui), leio as placas e zás, lá está (aqui convém omitir o número absurdo de vezes em que achei estar perdida, e estava…).
Estaciono a Estrela, vermelho, extravagante, (assim mesmo à gaja) à porta do Café Central (sim, porque aldeola que é aldeola, ou vilarejo que é vilarejo, tem de ter um “Café Central”) e pergunto ao rapaz estacionado atrás do balcão “Diga-me uma coisa, por favor, qual é o local da moda agora???”. O rapaz gagueja, tentando disfarçar aquela observação inevitável “Não é de cá, pois não?”. Claro que não sou de lá e o gajo até sabe, mas pronto… Respondo “Não, não sou… acho que me perdi… e a estas horas convém pensar em comer qualquer coisita, dar uma voltinha para conhecer o ambiente e o pessoal da terra e depois arranjar um local simpático para dormir um pouco… amanhã, consigo ver melhor a estrada, não acha?” E aqui o meu ouvinte declara “Claro, então ia agora assim sozinha a estas horas da noite, capaz de se perder por aí…”. Como esperava, dá-me o cardápio completo: onde jantar, onde encontrar os amigos dele, e a ele próprio, logo mais para beber um copo e até onde pernoitar. Janto. Verifico a maquilhagem e o cabelo, lavo os dentes (bem, não necessariamente por esta ordem mas o verbo verificar dá mais jeito para iniciar a frase), retiro da mala aquela amostra do perfume e mergulho-me no seu aroma. Saio, com aquele passo bamboleante que só promete, e dou por mim num barzinho provinciano a abarrotar de malta. Distraidamente, dirijo-me ao balcão e peço uma imperial (Haverá??? Se não houver, pode ser uma Superbock). Como quem não quer nada, observo o ambiente e topo-o. Ah, pois topo… Assumo aquele ar inocente e pergunto a um moçoilo qualquer que, pelo toque, parece ser dali: “Aquele rapaz que está acolá não é o Bob ou será que estou a fazer confusão? Há tanto tempo que não o vejo. E se não é…, já viu a barraca.”. Resposta:”Aquele ali…nãão… aquele é o Roberto”. E eu farta, fartíssima, de saber que é o Roberto. (Óbvio, não?! Quem, no seu são juízo, é que se atavia a rigor só para se perder, algures, neste imenso oceano de dissertações??? Quem???). Esgueiro-me e… sou surpreendida… O salto agulha da minha sandália preta ficou preso numa merda qualquer… bolas… que merda… agora vou ter de descalçar esta coisa. Quase que caio. Sou ajudada por uns simpáticos transeuntes e agradeço. O meu pé não ficou muito bem… dói-me o tornozelo. Peço o favor de me deixarem sentar para observar as sequelas e penso “Daasse, fazes tu uma porradona de quilómetros para te estatelares mesmo à frente do nariz do gajo e, ainda por cima, o fulano nem se mancou.” e… sou surpreendida… Não, não!!! Sou mesmo surpreendida. Alguém me pergunta: “Atão, ‘tás mal???” Aí, não há santo que aguente. ‘Tás mal??? ‘Tás mal??? Preciso de tempo para pensar e repito ‘Tás mal??? Penso, digo-lhe que estou cheia de dores e salto-lhe para o colo?, digo-lhe que vá para o raio que o parta com a pergunta e salto-lhe para o colo?, digo-lhe que é preciso ter azar e salto-lhe para o colo?, digo-lhe…. Penso em dizer mas vocifero, para me fazer ouvir no meio daquele ruído que se tornou infernal, “Eu??? Nããã… ‘Tou aqui mais fresca c’uma alface.”.
Li atentamente esta sua dissertação filosófica. Fiquei fascinada com os pormenores requintados com que a presenteou e, sem disso ter consciência, dei por mim a divagar… Voou a minha imaginação para locais, mais ou menos, perdidos nos recônditos desta nossa aldeia global, voou o meu sorriso para paisagens de imenso horizonte, voou…
Saí de mim mesma e observei-me então a conduzir o meu convertível vermelho (está bem, está), cabelos ao vento (depois de ter gasto uma fortuna no cabeleireiro), a maquilhagem na dose certa, aquele vestido preto que me cai na perfeição, aquela sandália de salto alto preta, a lingerie escolhida a dedo para causar o tal impacto a quem tem paciência para a descobrir – antes ou depois – e, claro, aquele toque de perfume que, eu sei, tem tudo a ver comigo. Observei-me assim e agora o que quer que eu lhe diga???
As paisagens correm velozes, o som da Janis acompanha-me e leva-me a outros espaços e a outros momentos, o desgraçado do semáforo ficou vermelho (porra, quem é que se lembra de pôr uma merda de um semáforo no meio do nada, porra), chega o cruzamento (e agora sei lá eu para onde é que se vira…, bem deve ser por aqui), leio as placas e zás, lá está (aqui convém omitir o número absurdo de vezes em que achei estar perdida, e estava…).
Estaciono a Estrela, vermelho, extravagante, (assim mesmo à gaja) à porta do Café Central (sim, porque aldeola que é aldeola, ou vilarejo que é vilarejo, tem de ter um “Café Central”) e pergunto ao rapaz estacionado atrás do balcão “Diga-me uma coisa, por favor, qual é o local da moda agora???”. O rapaz gagueja, tentando disfarçar aquela observação inevitável “Não é de cá, pois não?”. Claro que não sou de lá e o gajo até sabe, mas pronto… Respondo “Não, não sou… acho que me perdi… e a estas horas convém pensar em comer qualquer coisita, dar uma voltinha para conhecer o ambiente e o pessoal da terra e depois arranjar um local simpático para dormir um pouco… amanhã, consigo ver melhor a estrada, não acha?” E aqui o meu ouvinte declara “Claro, então ia agora assim sozinha a estas horas da noite, capaz de se perder por aí…”. Como esperava, dá-me o cardápio completo: onde jantar, onde encontrar os amigos dele, e a ele próprio, logo mais para beber um copo e até onde pernoitar. Janto. Verifico a maquilhagem e o cabelo, lavo os dentes (bem, não necessariamente por esta ordem mas o verbo verificar dá mais jeito para iniciar a frase), retiro da mala aquela amostra do perfume e mergulho-me no seu aroma. Saio, com aquele passo bamboleante que só promete, e dou por mim num barzinho provinciano a abarrotar de malta. Distraidamente, dirijo-me ao balcão e peço uma imperial (Haverá??? Se não houver, pode ser uma Superbock). Como quem não quer nada, observo o ambiente e topo-o. Ah, pois topo… Assumo aquele ar inocente e pergunto a um moçoilo qualquer que, pelo toque, parece ser dali: “Aquele rapaz que está acolá não é o Bob ou será que estou a fazer confusão? Há tanto tempo que não o vejo. E se não é…, já viu a barraca.”. Resposta:”Aquele ali…nãão… aquele é o Roberto”. E eu farta, fartíssima, de saber que é o Roberto. (Óbvio, não?! Quem, no seu são juízo, é que se atavia a rigor só para se perder, algures, neste imenso oceano de dissertações??? Quem???). Esgueiro-me e… sou surpreendida… O salto agulha da minha sandália preta ficou preso numa merda qualquer… bolas… que merda… agora vou ter de descalçar esta coisa. Quase que caio. Sou ajudada por uns simpáticos transeuntes e agradeço. O meu pé não ficou muito bem… dói-me o tornozelo. Peço o favor de me deixarem sentar para observar as sequelas e penso “Daasse, fazes tu uma porradona de quilómetros para te estatelares mesmo à frente do nariz do gajo e, ainda por cima, o fulano nem se mancou.” e… sou surpreendida… Não, não!!! Sou mesmo surpreendida. Alguém me pergunta: “Atão, ‘tás mal???” Aí, não há santo que aguente. ‘Tás mal??? ‘Tás mal??? Preciso de tempo para pensar e repito ‘Tás mal??? Penso, digo-lhe que estou cheia de dores e salto-lhe para o colo?, digo-lhe que vá para o raio que o parta com a pergunta e salto-lhe para o colo?, digo-lhe que é preciso ter azar e salto-lhe para o colo?, digo-lhe…. Penso em dizer mas vocifero, para me fazer ouvir no meio daquele ruído que se tornou infernal, “Eu??? Nããã… ‘Tou aqui mais fresca c’uma alface.”.
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