domingo, 25 de novembro de 2007

A Bela Adormecida

Podem V.Exas pensar que vos vou trovar a antiga lenda, contada por Charles Perrault ou mesmo oferecer-vos paisagens melódicas da obra de Piort Illitch Tchaikovsky (e muito menos a coreografia de Marius Petipa). Não, descansem os vossos “arquivos”.
Vou-vos pedir para que refinem os vossos sentidos para esta curta analogia que vos vou emprestar.

Era uma vez (que é assim que começam todas as histórias) um mancebo, de seu nome Zé, que desfrutava descansado e sem afazeres de maior, os prazeres da sua vida, num “reino”, já menos longínquo que, rezam as cartas, se encontra ainda em terrenos quase andaluzes. Boémio por natureza e por prazer, repartia o seu tempo pelas suas obrigações e prazeres. Desde sempre “apadrinhado” pela família, amigos e múltiplos protocolos, que lhe transmitiram vivências variadas, sempre conseguiu, umas vezes melhor outras pior, “fintar” as “bruxas maléficas” que, sem serem convidadas, teimosamente tentaram oferecer os seus hábeis e manhosos préstimos.
A certa altura, num momento de letargia, causado por uma manobra que quase lhe custa o resto da sua vida, tal como a conhecia e idealizava, surge-lhe uma bela esfinge, que se lhe dirige e lhe promete uma vida melhor em troco da solução para um enigma.
- O que tem quatro pernas de manhã, duas à tarde e três a noite?
Bem, o mamífero inquirido aceitou alegremente o desafio, respondendo prontamente:
- Deste-me algum trabalho, mas acho que sou eu. Então, de manhã, como estou deitado a tentar evitar um ou dois Gurosans ou a recuperar de um desempenho talámico aceitável, por vezes tenho quatro pernas, que é como me consigo locomover; à tarde, já recomposto e pronto para outra ergo-me em duas; pela noite, consigo com facilidade equilibrar-me em três, sem ligar a boatos de fraca fundamentação relativos à idade. E assim, sucessivelmente.
A bela esfinge, ao contrário do que possamos pensar, não se suicidou nem se devorou, seria um autêntico desperdício, mas exclamou, também já alegremente:
- Fosga-se ó Zé,como é que ainda não tinha pensado nisso?! É mesmo!!! Olha lá, em vez de eu me devorar, como fazem todas as outras esfinges, não preferes seres tu a fazê-lo, é que fiquei curiosa…? Já agora, não te apetece ir a um concerto aquático, na Aldeia Grande?
O Zé, como até nem era gajo de difícil trato aceitou, retorquindo:
- Ok, mas conheço um sítio onde fazem os melhores bitoques do mundo, que de bitoques percebo eu.
E, mais uma vez, acordou de mais um estado de dormência, com a vontade e alegria de viver, pela qual sempre pautou o seu caminho.
Desde essa altura, têm percorrido caminhos diversos, comendo bitoques, proporcionando-se prazeres mútuos e deixando-se levar pela cumplicidade que alimentam constantemente.

Embora não nos consigamos aperceber ou nos esqueçamos com frequência, em várias fases da nossa existência deparamo-nos com momentos que retratam, de maneira mais ou menos fiel, esta lenda, a lenda d’A Bela Adormecida.

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