Passeando-me por um qualquer centro comercial, iniciando a azáfama das compras natalícias, olho distraída, mas atentamente, as montras que correm velozes no meu processador de imagem. O cheiro intenso de um café aproxima-se, de forma matreira, do meu sistema olfactivo. Penso: "Vou fumar um cigarrito, beber um café e abstrair-me desta música dos sininhos que já me está a dar nos nervos". Sento-me. Inevitavelmente, escuto a conversa de duas lindíssimas e esculturais louras. "Estou chateada, pá. Não sei o que hei-de comprar ao Tó Zé. Já dei voltas e mais voltas e não há meio de ver uma coisa que me agrade. O gajo é complicado. Sei lá eu o que é que o gajo gosta". Bolas, penso eu, mas que porra esta. Calem-se já com essa conversa da treta". E saio, rapidamente, do local. Aquela loja pára-me. Olho o seu interior extasiada. Medito: "...e se eu..." Entro. É inevitável!!! Peço à menina do balcão: "Gostaria de experimentar aquele conjuntinho que está ali, por favor." A menina olha-me por detrás do balcão e rosna: "O se número é..." O meu número...bem... e respondo "34, copa C". Experimento-o, compro-o e a moça atira-me: "É para embrulhar?" Pois claro, penso eu, mas respondo: "Sim, é para embrulhar. Esse é o meu presente". Aí a moçoila anima-se e pronuncia-se: "Faz bem, também merecemos uma prenda". Abandono-a aos seus afazeres intelectuais e decido sentar-me, no frio do fim de tarde, num banquinho pouco confortável, a maquinar na minha compra. A minha imagem reflecte-se nas gigantescas bolas vermelhas penduradas algures e vejo-me com uns irresistíveis olhos verdes, umas estonteantes pestanas, de vermelho vestida. Umas sandalitas pretas, de salto-alto, claro. Uma caudinha finalizada em seta desponta, envergonhada. Sou eu. E nesse momento escolhi o presente, a prenda, a lembrancita...
Está guardada. Não para o corriqueiro dia 24, claro que não, mas para um outro dia.
Que dia?
Pois...
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