domingo, 2 de setembro de 2007

A insustentável subtileza da dor de cabeça

Há já alguns dias que ando preguiçosa. Busco as razões para tal fenómeno, mas, por preguiça, afasto-me de pensamentos mais elaborados e continuo a fluir na maravilhosa tentação preguiçal. Assim tem sido.
Passeando-me por este internético local deu-me, assim sem mais, uma incontrolável vontade de contribuir com mais uma das minhas opiniões.
Lembram-se que quase vos prometi abrir, por aqui, um espacito onde poderia dar voz às minhas considerações sobre a maravilhosa arte de ser gaja? Ora então cá vai.
Diz-se por aí, à boca cheia, que as dores de cabeça que nos atormentam a vida são fingidas e excessivamente frequentes. Ora, ora... Fingidas? Nada disso! A verdade é dura, mas parece-me que está na hora de a explicar ao mundo. Porque será que nos damos ao trabalho de fingir uma situação que não existe e, ainda por cima, pelo menos uma vez por semana? É fácil!!! É mesmo!!!
Simpáticos entes do género oposto, a verdade é única e absoluta.
A razão da nossa dor é a vossa incapacidade, quase inata, de serem consistentes tanto nos actos como nas palavras.
Mandamo-vos para o trabalho de banho tomado, barba feita, pele hidratada, perfumados, barriguinha cheia dos mais variados petiscos e com aquele beijo molhado e prometedor dado mesmo à saída.
Até aqui tudo perfeito.
As horas passadas no nosso emprego (sim, porque nós também trabalhamos) teimam em correr de forma lenta e dolorosa. Esperamos aquela mensagem que nos faça lembrar os tórridos minutos da noite anterior e a dita tarda em aparecer. Por fim, furiosas com a espera, decidimo-nos por vos enviar aquela frase lapidar que só os dois conhecem e aguardamos a resposta. Cento e vinte e três minutos depois, eis que a desejada aparece. E o que diz? "Para mim, também, foi bom". O quê? Bom?? É só isto que têm para nos dizer?
Decidimos desculpar a coisa. Provavelmente está enterrado em papelada ou está em alguma reunião com o Director e a respectiva secretária que, só por acaso, é um mulherão.
Esperamos, em casa, a entrada triunfal de alguém que, a esta altura dos acontecimentos, já percebeu o erro que cometeu.
E eis que chegam...
Suados e sem aquele cheirinho a perfume. Desculpam-se pelo atraso alegando a incompetência do chefe. E como se não bastasse, perguntam pelo jantar.
O jantar? Qual jantar?? (E nós à espera que nos levassem a jantar fora para se redimirem do seu erro.)
Inventamos umas batatas fritas com ovos estrelados e salsichas e empanturramo-nos para aliviarmos o amuo.
Sentamo-nos no sofá dispostas a ver mais um capítulo da telenovela e, invariavelmente, somos presenteadas com a mudança sistemática de canal.
Deitamo-nos, sós, para vos dar o previlégio de verem o que querem e durante o tempo que querem.
Adormecemos, ou então, deixamo-nos embalar por aquela sensação de meio cá meio lá.
Estamos nisto quando sentimos aquela patorra a subir pela perna.
Ai agora? Pois, agora não nos apetece. Agora querem, não é? Pois, agora não nos apetece. Andaram o dia inteiro a ignorar-nos e agora é que se lembram? Pois, agora não nos apetece. Andaram o dia inteiro sem nos lembrar o quão somos maravilhosas, lindas, boas, enfim... e agora esperam o quê? Pois, agora não!!!
E pimba...
"Dói-me a cabeça. Acabei de tomar um comprimido e quero ver se isto me passa."
E por via das dúvidas, não seja o caso de não termos sido entendidas, sussurramos um "Até amanhã" definitivo e cruel.
Fingidas??? Nada disso. São, apenas, o reflexo da vossa inconsistência.

Nenhum comentário: