Essa manifestação revelava o profundo conhecimento que os alunos de então, nos quais me incluo, albergavam e ampliavam acerca das várias matérias leccionadas, nas mais variadas áreas. Era uma aprendizagem por transmissão directa dos conhecimentos, do artista para o aprendiz, ao longo de gerações e gerações. Esse conhecimento abarcava áreas como o Desenho, pelo concreto da acção e pela arte em si, algumas vezes dava lugar a mais uns esboços acessórios, subordinados este ou a outros temas; as Ciências Naturais/Biologia, pela fidelidade e minúcia oferecida à sua elaboração; a Música, por vezes uma bela melodia assobiada enquanto se esboçava o dito, melhorava o produto final; as Ciências Físico-Químicas, pelo necessário cálculo efectuado às performances/capacidade de resposta do proprietário visado; Educação Física, em caso de erro de cálculo, desconhecimento de propriedade ou mesmo com conhecimento, a agilidade numa retirada estratégica era fundamental; até mesmo a área das Línguas, materna ou estrangeiras, no caso de se desejar inscrever uma legenda, não era de bom-tom rabiscar um erro, um mesmo argumentar uma justificação plausível; na Matemática, pela noção do número de esboços já realizados no mesmo caderno ou pelo número de folhas que, de forma descuidada, se tenham deixado imaculadas. E outras tantas, que deixarei à imaginação do leitor, como a Geologia, o Socorrismo, a Geografia, a História, etc., contemplando com toda a certeza, senão todas, a maioria das cátedras curriculares da altura, ou até pela combinação das mesmas.
É com muita tristeza que assisto diariamente, e já de algum tempo a esta parte, ao calamitoso abandono de algumas desta e doutras práticas académicas, em benefício de outras menos proveitosas, no que diz respeito ao carácter lúdico-pedagógico da coisa. E principalmente na franja masculina, dos nossos discentes de hoje.
Os alunos de hoje perdem tempo com os telemóveis, as sms’s e mms’s, com os mp3 e mp4 com a capacidade para não sei quantos gigabytes e que faz isto e aquilo, com as consolas de jogos portáteis atascadas em jogos de “tiros e bombas e socos nas trombas” onde só se ganha se se deixar um rasto de sangue e morte, com os amaricados brinquedos de malabarismo, os diabolos, com os brincos e penteados lélés à Cristiano Ronaldo, com a destruição de equipamentos e com a insubordinação constante às regras instituídas numa comunidade escolar. Eu sei lá, com tudo menos com aquilo que é favorável ao bom desempenho académico, tal como um bem rasgado jipe, numa bela folha, branca ou não, ávida de arte e conhecimento.
Se por acaso aparecesse algum destes esboços numa área escrita, até poderia ser considerado um “espólio de guerra”, principalmente se algum adulto reparava na obra de arte “Eh lá, o que é isso, pá? Que vergonha de caderno!…” inquiria o professor, depois de ver a magistral tatuagem no caderno da sua disciplina, ao que o aluno respondia com um silêncio e um inocente e respeitador encolher de ombros, deixando para si a reflexão “Isto é que são uns apontamentos do c*aralho!...”.
Como não podia deixar de ser, aqui vos brindo com alguns dos esboços que ainda me recordo, reclamando desta forma um sentimento nostálgico e paternal para esta postagem.
O tradicional
De perfil
De frente
O Geométrico
O Esquelético
O Assombrado