Aqui onde canto e ardo
Passarinho da charneca
entre papoilas e cardo.
Sete palmos de charneca
são o tamanho de um home
medido em anos de fome,
pesado em anos de seca,
esquecido que teve nome
e que, sendo a morte certa,
vida desta não é d'home,
vida desta não é d'home,
passarinho da charneca.
Passarinho da charneca
entrou na gaiola aberta.
Já tem os olhos cegados
para que cante melhor
que o dono não é cantor.
Traz nos colmilhos cerrados
vontades de mandador
e porque é dos mal-mandados
julga assim mandar melhor
nos que lhe estão sujeitados,
passarinho da charneca.
Criei o corpo comendo
desta terra da charneca
ao entrar na cova aberta.
Só estou pagando o que devo,
eu sou devedor à terra.
A terra me está devendo,
a terra me está devendo.
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo,
eu pago à terra em morrendo,
passarinho da charneca.
(Passarinho da charneca - tradicional alentejana)
2 comentários:
Adeus Avó,
até sempre!
Um abraço dos amigos Possidónio e Asdrubalina.
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