quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Pio

Aqui onde canto e ardo
entre papoilas e cardo.
Sete palmos de charneca
são o tamanho de um home
medido em anos de fome,
pesado em anos de seca,
esquecido que teve nome
e que, sendo a morte certa,
vida desta não é d'home,
vida desta não é d'home,
passarinho da charneca.

Passarinho da charneca
entrou na gaiola aberta.
Já tem os olhos cegados
para que cante melhor
que o dono não é cantor.
Traz nos colmilhos cerrados
vontades de mandador
e porque é dos mal-mandados
julga assim mandar melhor
nos que lhe estão sujeitados,
passarinho da charneca.

Criei o corpo comendo
desta terra da charneca
ao entrar na cova aberta.
Só estou pagando o que devo,
eu sou devedor à terra.
A terra me está devendo,
a terra me está devendo.
A terra paga-me em vida,
Eu pago à terra em morrendo,
eu pago à terra em morrendo,
passarinho da charneca.

(Passarinho da charneca - tradicional alentejana)

2 comentários:

Trovador disse...

Adeus Avó,
até sempre!

Anônimo disse...

Um abraço dos amigos Possidónio e Asdrubalina.