terça-feira, 25 de março de 2008

Coelho Aviador (uma elegia de Páscoa)



Alberto era um coelho.
Os seus feitos eram conhecidos na quinta onde vivia e nas quintas das redondezas; pode-se até dizer que talvez metade da “coelharia” dos arredores eram fruto da sua voraz “dedicação” à causa, era um coelho trabalhador, mais do que os outros coelhos que por ali viviam, e por isso sempre foi poupado ao breve convívio com o tacho e com o arroz e tinha por ali ficado. Agora, já com alguns anos e com a paciência a que a vida vivida o obrigava, o seu desempenho tinha vindo a decrescer, ele tinha disso consciência, e decidiu passar a pasta.
Já algum tempo que observava, com olhar analítico, um coelho mais novo, o Juvenal.
“É isso, é este mesmo. Este gajo é capaz de se fazer. Vou apostar nele e ensinar-lhe umas coisas.” Pensou o Alberto.
“Olha Juvenal, tens 3 passos principais a seguir para cada coelhinha: primeiro cumprimentas, depois pedes licença e, no final, agradeces. Olha que a educação sexual também é importante. Ouviste bem? Nunca te esqueças disto!”
Certo dia, já depois de várias aulas teóricas e algumas práticas, chegou a altura de assumir a responsabilidade de auxiliar o Mestre na árdua e urgente tarefa em perpetuar a espécie. Tinha de ser naquele dia, o relógio da Natureza não pára.
“Juvenal, anda cá! Temos aqui esta fila de coelhinhas. Eu começo de um lado e tu começas do outro. Metade para cada um. Encontramo-nos ao meio. Percebeste bem? E não te esqueças do que te ensinei!”
E lá vão eles.
“Bom-dia, como está? Dá-me licença? Ora cá vamos (…*…). Prontinho. Muito obrigado, sim?!” assim ia o Alberto, com a sua paciente delicadeza, dedicado mais à qualidade.
"oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.” Aquilo era sempre a aviar, o Juvenal era o verdadeiro Coelho Aviador.
E continuava.
“oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).desculpaAlberto.jáestá,xau.oi,’tásfixe?bora,(…*…).jáestá,xau.”
O Alberto, em vez de ter sido aposentado, foi transferido para a secção dos ovos da Páscoa, onde o risco é menor. O Juvenal também lá vai, mas só partilham o refeitório.
Agora trabalha sentado (nos primeiros tempos em cima duma bóia) onde é responsável pelos lacinhos.


Nenhum comentário: