sábado, 21 de julho de 2007

O arremesso da beata

Vá lá, digam lá com toda a sinceridade, se não atiraram já uma beata sem se preocuparem onde vai cair. Já, já atiraram já. Toda a gente atirou ou continua a atirar, por isso não me venham cá com merdas.
Curiosamente ainda se vê alguém a fazer isso, apesar dos muitos avisos. Pela janela do carro, pela janela de casa, pela varanda, até para o lado de fora do cinzeiro de um qualquer centro comercial. Já presenciei uma distracção no depósito desse resíduo de prazer em que, inadvertidamente (inadvertidamente mesmo!), esse arremesso acabou no sítio errado do balde do lixo, ateando fogo ao bicharraco e gerando uma confusão entre transeuntes, seguranças e pessoal de limpeza. Fosga-se, olha se sabem que foi.
Agora imaginem que, depois de um dia de trabalho, chegam a casa, dão uma bela queca, tomam um revigorante banho (de preferência acompanhado) e depois uma bela refeição (que pode muito bem ser um gaspacho, é fresquinho), se vão sentar na varanda da vossa casa, para usufruir prazenteiramente de um cigarro, mesmo daqueles mais sisudos, ou numa amena cavaqueira com o Roberto e, à laia de John Wayne, lançam os restos mortais desse vosso prazer pela varanda fora, desafiando as leis da gravidade e tentando bater um qualquer recorde do arremesso em comprimento.
Agora pensem, sim pensem que é que pode estar a passar lá em baixo! Não, nada disso de crianças, ou velhinhos, nem gajas boas a dirigirem-se para vocês, mas um mamífero, tão carregadinho de explosivos, que nem se pode peidar. É só puxar o atilho. E aquela merda vai-lhe cair mesmo em cima. Mesmo em cima de um milímetro de pavio que estava a descoberto.
E aquilo vai tudo para o caralho. Tudo! Vai o gajo e as cuecas que tinha comprado nos chineses, vai o vendedor de bifanas, que ainda estava a pagar a roulote ao banco, vai a puta que estava à esquina no ataque e a outra que já tinha a “boca cheia de trabalho”, ali no beco, vai o cão que estava a mijar a uma roda, vai a vossa bironda e até vai o atilho. Já sem falar do casal de surdos que se desentenderam, porque a mulher pensou que o marido se tinha peidado. Deu um barrenaço tão grande que até gelou os pintelhos da Cicciolina (se é que ainda os tem, em sede própria) e lhe rebentou as hemorróidas.
Aquilo é só sangue, mãe da minh’alma, parece o Dia do Juízo Final (digo eu). Dava um bom título para aquela colecção de literatura juvenil “Uma Aventura …”: “Uma Aventura no Açougue”.
Até os mosquitos abastecem em pleno voo. E quem paga? Nós!
Já viram o rombo que isso dá no Instituto do Sangue? Já pensaram que um dia podem vir a precisar desse sangue? Menos o do cão e o das hemorróidas da Cicciolina, claro.
Por isso, quando estiverem no exercício da degustação tabágica, sisuda ou mais humorada, nunca, mas nunca joguem a vossa beata fora. Arranjem uma porra qualquer, com tampa, que leve água, menos a sanita (pode até ser um frasco de café solúvel) e deitem para lá os vossos resíduos tabágicos.
Se usarem papel de arroz, além de não correrem o risco de ficarem com a gaita feita num nó, podem sempre esperar que se apague por si próprio, mas mesmo assim deitam-no, mesmo já apagado, dentro do tal frasco com água. Quando ficar cheio, sempre podem ir reclamar à loja onde compraram o café, dizendo que está estragado, que apanhou um pouco de humidade.

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